sábado, 25 de agosto de 2012

A mão do apego


Quando nascemos somos uma espécie de vazio. Um sopro, quase imóvel, que paira sobre uma mão gigante. A mão do apego. Aos poucos, vindas de todos os lados, rajadas de ar trazendo pedaçinhos de coisas indefiníveis começam a dar forma a um pequeno redemoinho de vento, de pensamento, que inicia uma dança sobre a palma da mão gigante. É o florescer de um pequeno ego.
Com o passar dos tempos e das tempestades os redemoinhos sobreviventes crescem imponentes, transformam-se em tufões, tornados e até ciclones. Mas, na proporção em que eles ganham força, o movimento necessário para que eles sobrevivam formam violentas correntezas de ar que atraem para seu centro os dedos da mão gigante sobre a qual eles estão. Quanto mais feroz seu espiralar, mais os dedos se contraem, mais a mão se fecha. No auge deste momento de potencia, de turbulência, o ego é esmagado e fechado em si mesmo. O seu ápice é o seu fim.
Muitos creem que as pessoas morrem quando o corpo já não suporta mais trabalhar, mas, na verdade, é assim que morremos. É uma morte antes da morte, e o que morre não é a verdadeira vida, a vida liberdade, e sim a vida mentira, a vida petrificada em si mesma e incapaz de sobreviver aos ventos do mundo.

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