sexta-feira, 27 de junho de 2014

O Desejo

Uma coisa viaja.
Sai do indecifrável infinito.
Seus caminhos são difusos,
Como a própria figura.
Um sentir sonho e som,
Possível panaceia
Desapressada, serena.
Lenta mas tirana.
Imensa nave montanha
Que sonda no escuro
Do vazio entre estrelas.
Um pouco de tudo traz:
Poeira, galáxias, deuses.
Sempre em movimento.
Miragem. Mira e vem
De dentro do nosso ser.
Quer sair, sempre quis.
Dela girassóis em telas,
Poemas, mundos sinfônicos,
Angústias, abraços e socos.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Sobre a paixão

não viu que
havia
ovinhos

de borboleta
naquela amora

agora vive
enamorada

Poema marxista

A sede de som
Suga o cerebelo
Do signo-sentido.

Uma sonoridade revolucionária
Tomou os modos de produção
Da primeira metade deste poema.

Passando em frente ao Petshop

– Veja só esse hamster correndo na rodinha. Que animal estúpido.
– Não pare! Senão chegaremos tarde na academia. 

terça-feira, 27 de maio de 2014

Filosofia Aquática

Zeus troveja
sobre os homens.
deságua.
Tales de Mileto mira o céu,
contra os pingos da chuva;
não vê o deus
por trás das nuvens.
só água.
a tempestade trasborda
as margens do rio.
Heráclito é tragado
pela correnteza.
até esbarrar na barragem
construída por Platão.
o rio não flui,
o mundo se divide.
de um lado a pele molhada,
do outro a pele das peles. 
Santo Agostinho,
no alto da barragem,
denuncia o mal nos homens
que, livres, banham-se
no rio sensível.
Spinoza afoga Santo Agostinho.
Afoga Deus, os homens.
Submerge tudo.
Benze a água.
o ato libera o rio
sob o aval divino. 
o mundo se reconcilia.
a substância aquática
transborda ao infinito.
o desejo de Schopenhauer
atrai uma torrente
arrastando todos.
Schopenhauer busca
no ruído do rio
uma música
pra aliviar a dor
de ser por ele tragado;
pra ver algo além
da representação do rio.
Nietzsche ri
da rabugice
do velho Schopenhauer.
mergulha no rio,
nada de costas
enquanto solta esguichos
de água pela boca.
o rio vira um oceano
de redemoinhos interconectados.
Nietzsche da uma bomba.
a água espirra em Freud
que se sente culpado.
[a mãe o proibira de se molhar]
Deleuze tira sarro de Freud:
“Spinoza, Nietzsche,
vejam isso,
Freud tem medo de nadar
e põe a culpa
na mamãezinha”.  

terça-feira, 20 de maio de 2014

Inconsciente

meus seres

estes
simulacros

adoram
me deixar

no vácuo

domingo, 18 de maio de 2014

Samudaya: da natureza do sofrimento

sentado na beira do rio.
isso bastaria.

mas a vara pensa
poder
algo real fisgar.

no aço do anzol a luz do sol
reflete na retina;

sentado na beira do rio.
isso bastaria.

mas há aquela expectativa
sobre
os peixes cartesianos.

o olhar fixo
na outra margem,
na imagem rija,
da árvore.

sentado na beira do rio.
isso bastaria.

mas lá no alto há
um corpo que o rio
traz em sua fluidez.

uma emoção
cristaliza-se. Some
o rio, rui a árvore.

sentando na beira do rio.
isso bastaria.

mas o teso corpo
aproxima-se, pestilento e sólido.

só o corpo existe;
com suas veias enraizadas na cena.

sentando na beira do rio.
isso bastaria.

o corpo se distancia, perde-se
no horizonte.

as coisas à existência
retornam.

na linha uma fisgada, alerta.

a imagem
do corpo enrosca-se em aço,
no anzol.

sentado na beira do rio.
isso bastaria.

sábado, 17 de maio de 2014

Sobre a Expectativa

“Sobre a Expectativa”. Poesia publicada no site da “Revista Cult”.

Confira no link: Revista Cult

Anicca

o rio e o zen.
quem passa
por quem?

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Poema Rio

pode
ser
sempre
não
pode
ser
o
mesmo

Óculos da verdade

Aconteceu no centro da cidade, enquanto caminhava até a estação de metrô. Um sujeito demasiado estranho agarrou meu braço. Com força, puxou-me para o canto. Passei os olhos sob a multidão, na esperança de encontrar algum policial. Não tive sucesso. Também percebi que para aquele emaranhado de pessoas apressadas eu não passava de sombra sem vida. Não resisti ao meu interceptador.

– Chega mais, você precisa me ajudar.

Fiquei com medo. Disse-lhe que só estava com o dinheiro do bilhete.

– Não sou pedinte. Você conhece a verdade?

Não sabia o que responder. Balbuciei algumas palavras desconexas. Havia algo de paranoico naquele olhar. Ameacei sair andando. Ele me impediu. Fechou a mão no meu pescoço.

– Meu nome é Horácio!

Continuei sem saber o que dizer. Pensei em agradá-lo. Disse-lhe que se tratava de nome muito bonito.

Permaneceu calado. Com aqueles olhos arregalados. Insuflava-me pânico.

– Conheci a verdade. É horripilante. Temos que rasgar esse mundo.

Depois de ouvir tais palavras, não tive dúvida. Tratava-se de loucura. Minhas pernas tremiam. Queria era desaparecer dali. Pensei em gritar, pedir socorro. Mas hesitei. Poderia ser perigoso, ter uma faca. Acabaria comigo.

Retirei a carteira do bolso, disse que poderia levá-la. Ele riu. Afirmou que era tarde, que tudo estava perdido. Não havia mais para onde fugir.

Enquanto tentava acalmá-lo, ele retirou um par de óculos da mochila, com muito cuidado.

– Feche os olhos, vou colocá-los em você. São os óculos da verdade. Lhe mostrarão a realidade.

Aquela situação me afligia.

Fechei os olhos com força. Colocou em meu rosto. Posicionou-me na direção do fluxo humano.

Pelo barulho, percebi que o louco saiu correndo. Fiquei confuso, parado, na escuridão, o ruído da multidão ecoava nos meus ouvidos.

Aos poucos o medo foi perdendo intensidade.

Decidi abrir os olhos. As pessoas vestiam camisas de força. Debatiam-se. Uma espuma escapava de suas bocas.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Em frente ao espelho

– Onde posso experimentar este biquíni?

– No fundo do corredor, à direita.

Depois de entrar no provador, conferiu duas vezes se a porta estava realmente fechada. Inclinou a cabeça pra cima, assegurando-se de que não havia nenhuma câmera oculta.

Colocou sua bolsa ‘Louis Vuitton’ no chão, com muito zelo.

Admirou-se frente ao espelho. Esboçou algumas poses. Tirou fotos com seu Iphone, fazendo biquinhos.

Primeiro tirou os óculos, ‘Cartier’; reparou como eram lindos.  Depois o echarpe, a jaqueta, a blusinha por baixo, tudo da ‘Burberry’.

Tirou mais algumas fotos e soltou uma risadinha como quem realiza uma traquinagem.

Sentou-se no banco, abaixou o zíper das botas também importadas, descalçou-as. Depois as meias de seda. Desabotoou o cinto ‘chanel’ e abaixou a calça ‘prada’, com rasgos originais na altura das coxas.

Só restou a lingerie, ‘Gucci’, preta, trabalhada com rendinhas, cheia de enfeites.

Exibiu-se ainda mais uma vez frente ao espelho, desta vez com um resquício de empolgação.

Até que tirou tudo. Completamente nua. Apenas o iphone nas mãos.

No reflexo do espelho o celular pairava no ar, dentro do provador, vazio.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Poesia existencialista

a rua da minha casa
passa a existir.
na calçada a flor prensada
pelo passo apressado.
entristeço por ela;
somos tudo que existe
no irromper do momento.
um gato se aproxima,
cheira a flor.
o gato floresce em mim,
como o saldo da cena pensada.
o gato e a flor são eu.
os pensamentos, o ser, o signo,
sou o sim da consciência.
a existência divaga-me,
eu divago com ela.
fecho a porta!
a rua inteira entra comigo,
sem pedir licença.

Tempo congelado

Aquele tormento! Enchi de tempo a forminha, levei ao congelador. O efeito pouco tardou. Uma parada cardíaca. Caí duro, estarrecido. Assisti no vazio dos estalados olhos o universo inteiro explodir e contrair. Infinitamente! Fui salvo por uma queda de energia. O tempo escorreu, descongelou. Voltou a pulsar em meu peito.

Contrinha

O médico fez todos os exames. Estava seguro, o parto aconteceria quando a gravidez completasse exatos nove meses. 

O prognóstico falhou. A bebê era do contra, surpreendeu a todos e rebentou um mês antes. O nascimento foi penoso. A mãe estava na rua fazendo compras, na busca por roupinhas e um berço. Enquanto caminhava pelo passeio, a vista embaralhou, o passo vacilou, as sacolas caíram, a bolsa rompeu. Formou-se um aglomerado de pessoas. Uma jornalista apareceu. O milagre do nascimento seria transmitido ao vivo. A mãe gritava, banhada em suor. A criança ameaçava sair; a cabeça pra fora. Uma enfermeira que passava tentou puxá-la. A bebê assustou, voltou pra dentro.  A torcida lamentou. Decidiram levar a grávida, de carro, ao hospital mais próximo. O parto foi longo. E quando finalmente nasceu, a neném surpreendeu a todos. Contrariou o ultrassom, havia um pintinho entre as pernas.

Durante a infância também apareceram sinais de que aquele espírito a tudo contrariaria. Seus trejeitos eram femininos. Relutava, contradizia seu próprio ser. No aniversário de sete anos pediu uma metralhadora de brinquedo. Queria ser soldado. O pai era esclarecido, não reprimia. Mas não havia jeito, o pequeno não dava brecha, batia nas outras crianças para provar a macheza. Se todos torciam para o time campeão, ele vibrava com o rival; se a moda era topete, raspava a cabeça. A mãe tentou um psicólogo. O terapeuta desistiu. Tratava-se de uma mania que beirava a loucura.

Quando adulto, a doença, se assim podemos chamá-la, demonstrou-se mais grave. Foi difícil, mas encontrou uma companheira amorosa. Mulher passiva, não tinha boca pra nada, tolerava as manias do homem que a todos afastava. Até os pais. As manifestações de sua obsessão se davam em diferentes graus. Às vezes de forma mais amena, como quando foi ao cinema e ficou de olhos fechados pra contrariar os que assistiam ao filme; ou quando dormiu na cozinha só para contrariar o quarto. Quanto as atitudes excêntricas, a mais espantosa: frente ao padre, em cima do altar, disse ‘não’, só pra contrariar a noiva.

Passou por muitos empregos, enfureceu muitos patrões, chegou à velhice. Vivia num asilo. A idade avançada comumente é acompanhada de rabugices, mas nem os mais intransigentes que ali viviam suportavam as atitudes do ‘Contrinha’ – assim apelidado pelos enfermeiros. Tinha mania de cuspir os remédios indicados e tomar as pílulas do colega de quarto, cadeirante à mercê daquelas esquisitices.

Guardava o costume de jogar cartas com os companheiros na varanda do segundo andar do prédio principal do asilo. Um belo dia, ao perder uma partida de buraco, se recusou admitir a derrota. O adversário, então, velhinho enfezado e perspicaz, teve uma idéia. Em tom desafiador:

– Contrinha, ordeno que você jamais pule desta varanda.

Ele pulou.

Os velhinhos pasmaram. Desceram todos até onde encontrava-se o corpo esticado no chão. Uma das pernas virada pra trás. Aproximaram-se, bem perto. Um sorriso amarelo esboçou-se nos lábios de Contrinha.

Não morreu. Contrariou a morte. 

domingo, 20 de abril de 2014

nasci da rosa
cresci no espinho

talhei na terra
as raízes do mito

domingo, 6 de abril de 2014

Metafísica, Presença e Flores

há presença na ausência das flores;
nos botões das flores, também.
presença outrossim na ausência
dos mesmos ditos botões.
presença, seja na ausência
do florescer, ou no fluir do florir.
árida presença nas secas pétalas.
apenas a primitiva presença
onde jaz a estiagem de findas flores.
presença nos ciclos soterrados.
na impermanência das flores,
o substrato, a presença metafísica.

segunda-feira, 31 de março de 2014

no caminho vago
da consciência vazia
havia a experiência.
interagiram-se!
criaram o tempo;
que ele desse jeito
naquela monotonia!
então o tempo
criou o homem;
e o homem a poesia.

sexta-feira, 21 de março de 2014

caminhos camuflados
de realidade, reagem, rudes,

aos transeuntes inconscientes
da transitoriedade.

convém ser camaleão
multi tonalidades:

no movimento tecer cores,
reavivar as raízes das ruas;

nesta senda servir sentidos
àquilo que tudo pode. 

segunda-feira, 17 de março de 2014

Meditativo
Em lótus levito.
Não há tato
Na estátua de Sidarta.
Nem perfume
Na pétala prata.
Apenas um leve
E sólido silêncio
No vazio 
Da plenitude.

sexta-feira, 14 de março de 2014

a verdade
é o 'nada' transcendente;
uma simbiose
entre o bem e o mal;
o mistério
no olhar da vidente
que seduz o destino banal.

terça-feira, 11 de março de 2014

Saudade e esperança são formas do amor viajar no tempo.

No meu quintal havia um girassol

Aconteceu quando eu estava sentado numa cadeira de madeira, de frente para meu quintal. Enquanto meus pensamentos vagueavam, vi um pequeno reboliço de formigas ao lado dos meus pés. Sentei no chão, ao lado delas, decidido a observá-las. Juntas, formavam um círculo. Quase não pude acreditar, mas, quando cheguei bem perto, percebi que no meio do de tal círculo havia uma formiga amarrada num minúsculo pedaço de palha. Ao redor desta, as outras pareciam furiosas. Perguntei o que estava acontecendo. E uma formiga, que tinha a cabeça maior que a das outras, e que aparentava ser a chefe do formigueiro, tomou a frente do grupo e respondeu, com ódio: “atearemos fogo nessa palha, essa bruxa – referindo-se a pobre formiga feita prisioneira – deve ser queimada”. Após frase pronunciada de forma tão enfática, começaram um coro “queima, queima, queima”. Fiquei aflito, queria saber o que estava acontecendo; precisava saber o que a tal formiga poderia ter feito de tão grave. Foi então que, no meio do tumulto, ela começou a gritar: “vocês precisam entender, o girassol não é Deus, é só uma flor”.

quinta-feira, 6 de março de 2014

a razão retêm-se na retidão cartesiana
e rui na ânsia ante um retábulo

um fantasma enrosca-se em Sócrates
e o submerge num rio de impermanência

o termo ‘limite’ possibilita a leitura do mundo
daquele que respira a palavra

mas a palavra ‘céu’ não é o limite do céu
apenas um conciso
sentimento de paz
e eu pronto dissipo
essa massa de mas
o que há
para lá
da parede

parida
de dentro
de mim?

Do asfalto sobe um vapor tórrido
No sol o torpor é mais cálido

Grande elefante o tempo sente
Tem dias que passam lentamente

Como lesma sobre concreto
Jogado no chão, olhar no teto

O relógio faz que não mente
Tem dias que escorrem lentamente


O Zen e o Vento

o vento que sopra meu ser,
dispersa-me, dente de leão,
em brancas penugens suspensas

em flutuantes finas levezas
todos meus eus, díspares, pairam
sobre o solo comum de maya

em terras férteis e atrativas,
amigos, amores e rimas,
renasço nas formas festivas

e nos recipientes estéreis
aceito a senda que não cria
e mergulho no vão da vida
o telos
é tatear

(temporal-mente)

a teia
de teo

quarta-feira, 5 de março de 2014

No caixa do supermercado

Pegou tudo?
Peguei.
Então vamos.
Sim.
Caralho, todos os caixas estão lotados.
Putz.
Olha aquele, corre lá que ele ta abrindo agora, só tem uma mulher na frente.
Ufa, conseguimos.
Pode crer, MAIOR SORTE.
Olha só o tamanho da fila do caixa rápido, imensa.
Saca só aquele cabeludinho que tá em último.
Melhor ele descolar um colchão.
Pelo tamanho da fila, ele só vai sair daqui amanhã.
Amanhã? um dia vão achar o esqueleto dele por aí, com o fardinho de breja na mão.
Nossa, por falar nisso, o caixa daqui tá demorando pra abrir, né?
Verdade.
Por que o computador do caixa não liga logo?
Vixe, pelo jeito deu pau no computador, ta reiniciando.
Putz.
Olha essas revistas de novelas...
Que bosta.
Hey, eu gosto, tá?
Sério?
Tô brincando.
Prefiro essa de modelos que ensina dietas!
Putz, esse programa não vai reiniciar nunca?
Hey, moça, por que isso não reinicia logo?
Desculpe, senhor, preciso que a gerente venha aqui pra digitar a senha que abre o programa.
E cadê ela?
Já está vindo.
Vai demorar muito?
Não, ela já vem.
Olha lá, o cabeludinho andou um pouco, coitado.
Mas aqui também tá foda, viu!
Calma, a gerente já vem.
Pelo jeito, ela deve estar vindo da casa dela.
Relaxa.
Olha só esse monte de doces aqui.
Os caras do mercado são espertos, colocam isso bem na fila pra atiçar a gente.
Mas eu não compro, só de raiva.
Pode crer, não me enganam também.
Caralho, cadê a porra da gerente?
Ufa, chegou.
Agora vai!
Tá digitando a senha.
Digitou.
Mas por que não passa logo as compras da mulher aqui da frente?
Moça, moça, já não digitou a senha? Por que não passa as compras dela então?
Desculpe senhor, deu erro na senha; a gerente foi chamar o técnico.
MEU DEUS!
Calma, o técnico já vem e resolve.
Porra, olha lá o cabeludinho, já andou mais; ta na metade da fila.
Esquece esse cara.
Olha só aquelas fotos da cidade em 1930.
Nossa, como as pessoas conseguiam ficar de terno nesse calor?
Pensa pelo lado bom; aqui tem ar-condicionado.
Sim, mas a demora tá foda.
O técnico chegou.
Agora vai!
Vixe, pela cara dele o problema é sério.
Moça, pelo amor de Deus, o que tá acontecendo?
Acho que o software tá com vírus.
Vírus? Como assim? Nunca vi isso acontecer em caixa de supermercado.
Pois é senhor, parece que alguém conseguiu entrar no facebook pra jogar fazendinha e pegou vírus.
Santa Maria!
Calma, o técnico vai passar o antivírus.
Você só pode tá de brincadeira.
Acalme-se, por favor!
Como?
Ele tem o anti-vírus Norton, vai detectar rapidinho.
Cara, olha o cabeludinho, lá, só tem quatro na frente dele.
Vá pá merda.
Que isso? Sua pálpebra tá pulando.
Meu braço ta dormente, me deixa quieto; preciso de um doce, pega aí pra mim vai.
Senhor, não pode abrir o produto antes de passar no caixa.
Então vai logo!
Calma, o técnico já tá vindo.
Calma, calma, calma, você não cansa de falar isso?
Chegou.
Passa logo esse anti-vírus.
Sim.
Parece que a USB tá com problema.
Cara, me segura.
Peraí, peraí, funcionou.
Ufa!
Técnico, quanto tempo demora isso?
Não mais que 15 minutos.
Olha lá, a pálpebra pulou de novo.
Vou comer esse doce, não quero nem saber.
Não faça isso senhor, terei que chamar os seguranças.
Argh!
Não acredito que teremos que esperar 15 minutos.
Vamos ler as capas das revistas.
Tá de brincadeira, né?
É sério, ajuda o tempo passar.
Passar? Eu quero é passar a porra das nossas compras.
Maldita hora que você escolheu esse caixa.
Para com isso, olha lá o cabeludinho, só falta um na frente dele.
Inacreditável!
Pronto, senhor, já detectou o vírus, e o computador já pode ser reiniciado.
Até que enfim.
Pode passar as coisas.
Aleluia! Agora é só esperar essa mulher da frente passar, e depois é a gente.
Até que ela tá passando rápido.
Ufa!
Ué, parou por que?
Aquela maldita luz do caixa acendeu.
O que será?
Moça, o que ta acontecendo?
A mulher esqueceu de pesar os tomates.
Puta que pariu!
Calma senhor, a moça vai de patins, rapidinho.
Cara, minha gastrite.
Relaxa, olha essa revista de futebol.
Que se exploda!
Grosso.
Olha lá, a menina já chegou, pronto; agora é só passar o resto e é a gente.
Do jeito que as coisas estão, eu duvido, capaz até de cair a energia do mercado.
Não fala isso nem brincando.
Só falta passar aquela caixa de leite e somos nós.
NÃO! PAROU POR QUÊ?
Acalme-se senhor, eu passei o número de caixa de leite errado; preciso que a gerente venha aqui para cancelar dois leites.
Eu pago por esse leites a mais, pelo amor de Deus, mas deixa eu passar logo.
Não posso senhor.
Por quê?
São as normas do sistema.
Eu quero morrer.
Calma, senhor, a gerente já está chegando.
Do Japão, só se for!
Cara, o cabeludinho!
INFERNO, para com isso!
Pronto, chegou.
Até que enfim, cancelou?
Sim.
Somos nós.
Olha, o cabeludinho ta passando junto com a gente; vai rápido que a gente ganha dele.
Pelo amor de Deus, esquece esse maldito cabeludinho.
Pronto, senhor, ficou cinquenta e três e noventa.
Passa no cartão.
Crédito ou débito?
Crédito!
Pode inserir.
Digite a senha e aperte o verde.
Pronto.
Ué, por que não tá indo?
Senhor, parece que travou o sistema; aguarde um minuto.
Um minuto? Um minuto? Pegue esse cartão e corte meu pescoço, por favor.
Calma, senhor.
Cara, não queria falar nada, mas o cabeludinho tá indo embora.
(silêncio psicótico)
Pronto, senhor, pode inserir o cartão novamente.
Tá, tá, tá!
Senhor, deu senha inválida; digite novamente.
Inválida de novo; mais uma e bloqueiam seu cartão.
Cara, seu olho vai pular pra fora.
Senhor, seu cartão foi bloqueado.