Aconteceu
no centro da cidade, enquanto caminhava até a estação de metrô. Um sujeito
demasiado estranho agarrou meu braço. Com força, puxou-me para o canto. Passei
os olhos sob a multidão, na esperança de encontrar algum policial. Não tive
sucesso. Também percebi que para aquele emaranhado de pessoas apressadas eu não
passava de sombra sem vida. Não resisti ao meu interceptador.
–
Chega mais, você precisa me ajudar.
Fiquei
com medo. Disse-lhe que só estava com o dinheiro do bilhete.
–
Não sou pedinte. Você conhece a verdade?
Não
sabia o que responder. Balbuciei algumas palavras desconexas. Havia algo de paranoico
naquele olhar. Ameacei sair andando. Ele me impediu. Fechou a mão no meu
pescoço.
–
Meu nome é Horácio!
Continuei
sem saber o que dizer. Pensei em agradá-lo. Disse-lhe que se tratava de nome
muito bonito.
Permaneceu
calado. Com aqueles olhos arregalados. Insuflava-me pânico.
–
Conheci a verdade. É horripilante. Temos que rasgar esse mundo.
Depois
de ouvir tais palavras, não tive dúvida. Tratava-se de loucura. Minhas pernas
tremiam. Queria era desaparecer dali. Pensei em gritar, pedir
socorro. Mas hesitei. Poderia ser perigoso, ter uma faca. Acabaria comigo.
Retirei
a carteira do bolso, disse que poderia levá-la. Ele riu. Afirmou que era tarde,
que tudo estava perdido. Não havia mais para onde fugir.
Enquanto
tentava acalmá-lo, ele retirou um par de óculos da mochila, com muito cuidado.
–
Feche os olhos, vou colocá-los em você. São os óculos da verdade. Lhe
mostrarão a realidade.
Aquela
situação me afligia.
Fechei
os olhos com força. Colocou em meu rosto. Posicionou-me na direção do fluxo humano.
Pelo
barulho, percebi que o louco saiu correndo. Fiquei confuso, parado, na escuridão,
o ruído da multidão ecoava nos meus ouvidos.
Aos
poucos o medo foi perdendo intensidade.
Decidi abrir os olhos. As pessoas vestiam camisas de força. Debatiam-se. Uma espuma escapava de suas bocas.
Decidi abrir os olhos. As pessoas vestiam camisas de força. Debatiam-se. Uma espuma escapava de suas bocas.
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