sexta-feira, 16 de maio de 2014

Óculos da verdade

Aconteceu no centro da cidade, enquanto caminhava até a estação de metrô. Um sujeito demasiado estranho agarrou meu braço. Com força, puxou-me para o canto. Passei os olhos sob a multidão, na esperança de encontrar algum policial. Não tive sucesso. Também percebi que para aquele emaranhado de pessoas apressadas eu não passava de sombra sem vida. Não resisti ao meu interceptador.

– Chega mais, você precisa me ajudar.

Fiquei com medo. Disse-lhe que só estava com o dinheiro do bilhete.

– Não sou pedinte. Você conhece a verdade?

Não sabia o que responder. Balbuciei algumas palavras desconexas. Havia algo de paranoico naquele olhar. Ameacei sair andando. Ele me impediu. Fechou a mão no meu pescoço.

– Meu nome é Horácio!

Continuei sem saber o que dizer. Pensei em agradá-lo. Disse-lhe que se tratava de nome muito bonito.

Permaneceu calado. Com aqueles olhos arregalados. Insuflava-me pânico.

– Conheci a verdade. É horripilante. Temos que rasgar esse mundo.

Depois de ouvir tais palavras, não tive dúvida. Tratava-se de loucura. Minhas pernas tremiam. Queria era desaparecer dali. Pensei em gritar, pedir socorro. Mas hesitei. Poderia ser perigoso, ter uma faca. Acabaria comigo.

Retirei a carteira do bolso, disse que poderia levá-la. Ele riu. Afirmou que era tarde, que tudo estava perdido. Não havia mais para onde fugir.

Enquanto tentava acalmá-lo, ele retirou um par de óculos da mochila, com muito cuidado.

– Feche os olhos, vou colocá-los em você. São os óculos da verdade. Lhe mostrarão a realidade.

Aquela situação me afligia.

Fechei os olhos com força. Colocou em meu rosto. Posicionou-me na direção do fluxo humano.

Pelo barulho, percebi que o louco saiu correndo. Fiquei confuso, parado, na escuridão, o ruído da multidão ecoava nos meus ouvidos.

Aos poucos o medo foi perdendo intensidade.

Decidi abrir os olhos. As pessoas vestiam camisas de força. Debatiam-se. Uma espuma escapava de suas bocas.

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