terça-feira, 27 de maio de 2014

Filosofia Aquática

Zeus troveja
sobre os homens.
deságua.
Tales de Mileto mira o céu,
contra os pingos da chuva;
não vê o deus
por trás das nuvens.
só água.
a tempestade trasborda
as margens do rio.
Heráclito é tragado
pela correnteza.
até esbarrar na barragem
construída por Platão.
o rio não flui,
o mundo se divide.
de um lado a pele molhada,
do outro a pele das peles. 
Santo Agostinho,
no alto da barragem,
denuncia o mal nos homens
que, livres, banham-se
no rio sensível.
Spinoza afoga Santo Agostinho.
Afoga Deus, os homens.
Submerge tudo.
Benze a água.
o ato libera o rio
sob o aval divino. 
o mundo se reconcilia.
a substância aquática
transborda ao infinito.
o desejo de Schopenhauer
atrai uma torrente
arrastando todos.
Schopenhauer busca
no ruído do rio
uma música
pra aliviar a dor
de ser por ele tragado;
pra ver algo além
da representação do rio.
Nietzsche ri
da rabugice
do velho Schopenhauer.
mergulha no rio,
nada de costas
enquanto solta esguichos
de água pela boca.
o rio vira um oceano
de redemoinhos interconectados.
Nietzsche da uma bomba.
a água espirra em Freud
que se sente culpado.
[a mãe o proibira de se molhar]
Deleuze tira sarro de Freud:
“Spinoza, Nietzsche,
vejam isso,
Freud tem medo de nadar
e põe a culpa
na mamãezinha”.  

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