terça-feira, 4 de março de 2014

Homus Taxatórius

Por favor, não diga quem sou.
Se eu estiver de bom humor,
pode dizer quem acha que és,
mas não mais me diga quem sou.
Ando exausto de tanto ser;
Já fui filho dos deuses gregos
que deixaram o meu céu negro,
com raios, trovões e tempestades.
Já tive nas minhas entranhas,
o fogo que a tudo transforma,
e, sempre a mim muito estranhas,
outras tantas perenes formas.
Também fui filho do pecado
e até hoje sofro este fado;
fervoroso orei ao meu deus pai,
mas não sei se hoje estou perdoado.
Outros tempos muitas rasuras;
de bom selvagem, máquina,
fui tábua rasa e razão pura;
vários homos e até macaco.
Depois vinguei como desejo;
síntese de ocultos poderes.
O adeus àquele pai estranho
deixou-me neste mar de seres.
Poderia até estar certo, Sartre,
mas não me diga que sou livre,
caso contrário me contradigo,
e esse poema – já preocupado –
perderia todo seu sentido.

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